Chega sexta-feira. Você está animado pra sair com seus amigos, sentar com eles numa mesa e beber uma cerveja, jogar conversa fora, quem sabe conhecer alguém interessante.
As horas vão passando enquanto espera sentado que seu amigo te apresente a nova garotinha que ele estava falando tanto antes, o copo da cerveja vai suando e seu cigarro fica pedindo a todo instante para ser aparado por petelecos. As horas vão passando e você anda de beco em beco, olhando pras pessoas rindo e se divertindo, percebendo que você não está tão feliz quanto elas, e você finge passar por despercebido. A noite termina e você não fez nada que se recorde, de novo.
Depois de uma semana aquela pequena sensação de desconforto vira algo latente, fica cada vez mais difícil ignorar que há algo errado contigo. Mesmo com o humor lacônico com que lida a sua lógica fatalista, você pensa duas vezes antes de pensar numa conspiração universal que busca o seu eterno desprazer nos finais de semana, afinal, você não é um floquinho de neve especial.
Sentado no computador, buscando algo que te inspire e cheio de esperança que alguém legal te chame pra sair, e que isso realmente te divirta, nada acontece. Você definitivamente não é uma personagem de filme hollywoodiano, nenhum agente especial vai te contratar para uma missão confidencial que se bem sucedida, o prefeito te entregar a chave da cidade para você comer o que quiser no supermercado sem pagar nada. Uma voz lá dentro da sua cabeça diz claramente: desculpe amigo, mas você foi esquecido por todos, e ninguém sente sua falta.
Em alguns meses, aquele sensação de rejeição te tortura, mas não a solidão. A solidão não te incomoda. Enquanto seu estado de ocupado no msn mascarar a sua vida ociosa e vergonhosa, você está bem, se masturbando para mulheres sujas de porra e jogando algum jogo de mmorpg. "Afinal, quem iria pesquisar minha verdadeira ocupação, já que sou tão inútil?" Você pensa. A cada dia você passa a se comparar com pessoas de níveis cada vez menores. Você antes mal dava bom dia pro porteiro do seu prédio, agora olha ele nos olhos e busca um consolo para a dor que está sentindo, sentir a realidade batendo no seu casulo, toc toc.
Era verdade. Meses atrás, aquele pensamento arriscado de querer saber até quando as pessoas iriam lembrar de você sem que você fosse recíproco com nenhuma delas, foi posto em prática e o resultado, surpreendente. Sua auto estima é leviana como a de qualquer outro adolescente, e eles, já acostumados em ter de buscar constantemente se encaixar em algum grupo para não se sentir um grande perdedor, fazem como é necessário para sobreviver: Puxe saco depois pretenda que você é importante e ignore, vá para uma festa, poste fotos suas com seus "amigos", minta para si mesmo que está feliz, repita a operação.
Depois de meses de abstinência, sem sentir o êxtase do poder que você estava acostumado a sentir, você passa a rejeitar aqueles que antes te rejeitaram. "Já que eles não precisam de mim, eu não preciso deles" você pensa, sem realmente acreditar no que está pensando. Nesse momento, você está tão distante daquelas pessoas que te deixaram para trás que mesmo numa investida despretenciosa, você falha, falha miseravelmente. Algumas pessoas devem ter falado de você, e devem ter falado mal, e agora a moral que você tinha, sumiu.
Você sente sua vida sendo sugada para uma poça pegajosa e não consegue se soltar, e ninguém tenta te puxar pra fora, mesmo que você grite bem alto e chore de desespero. A partir desse momento você reflete como foi parar ali, tão rápido e sem esforço, numa posição de total submissão às pessoas que antes de certa maneira te idolatravam.
A partir daí você passa a olhar melhor para sua família, e busca a proteção deles, como se voltasse a ser criança. Seus pais, sempre condolescentes e amáveis, te põem por baixo da saia sem hesitar; eles te adoravam quando você era aquele bebezinho fofinho que só saía de casa quando eles quisessem.
Você está ficando velho, o tempo está passando, e você fica aí, sentado em frente ao computador, esperando que algo aconteça. Você tem medo de tentar e não conseguir, para depois as coisas ficarem ainda piores. Você ouve de longe as pessoas rindo da sua cara, e algumas riem até mesmo na sua frente, e não há nada que se possa fazer.
Você espera por cada sexta-feira com a mesma animação de sempre, esperando que por algum momento você esqueça de quem você é, e finja ser outra pessoa. Se as pessoas não te toleram, imagine você mesmo.
12 de outubro de 2011
18 de agosto de 2011
Toxicity
Uma vez enquanto bebia uma cerveja, uma garota veio até mim perguntando que horas eram. Eu respondi que não fazia ideia que horas eram. Parecia noite, não tinha certeza, passei o dia inteiro no bar... Como se realmente importasse pra mim dar uma resposta exata a ela, quanto mais a mim mesmo além. O tempo nem existe.
- Não sei.
- Ah, obrigado. Você vem sempre aqui?
- Você está tentando ter algum tipo de conversação comigo?
- Não é educado responder com outra pergunta.
- Foda-se, some da minha frente.
- Te vi ali apoiado na mesa, quis conversar com você. Não me importa se você me acha interessante também, só queria ouvir o que você tem a dizer.
- O que eu tenho a dizer? Pss... Já vi que você é teimosa. Eu estou aqui bebendo minha cerveja quieto, você vem perguntar as horas sendo que não há nenhum relógio nos meus pulsos, é óbvio que eu não saberia te responder e não me interessaria nenhum pouco ser educado contigo. Você é do tipo que acredita em amor à primeira vista ou algo do tipo? Não sei porquê estou dizendo isso.
- Eu acredito que as pessoas têm sempre algo a dizer, mas não sabem. Quando olhou pra mim não me viu de verdade, seus olhos te enganam.
Chequei ela de cima a baixo. Loira, vestida com uma saia de couro e blusa branca, cheirava bem, tinha olheiras de quem toma muito remédio anti-depressivo. Estava de pé bem ali do meu lado sem esboçar nenhum movimento de acanhamento pela minha falta de educação ou pelo fato de eu estar rejeitando a investida dela.
Percebi que ela não estava olhando pro meu rosto, ela olhava apenas meu olho esquerdo como se fosse o único ponto do meu corpo que me qualificasse como um ser humano. Eu poderia simplesmente sair dali e procurar algo importante pra fazer, mas quis brincar um pouco com ela, pensei que talvez fosse divertido.
- Garota, eu não sei o seu nome e nem sei quem você é, estou começando a me interessar pelo real motivo de você querer conversar comigo.
- Não há real motivo, só estou aqui temporariamente, logo vou embora. Meu nome não lhe interessa de verdade e você nunca saberá quem eu sou, mesmo que viva anos comigo.
- Entendi. É algum tipo de joguinho que você joga com pessoas para que elas te deem atenção. Você é maluca.
Neste instante uma outra garota apareceu e segurou ela pelos ombros
- Venha Keith, pare de incomodar os outros. Senhor, ela está te incomodando?
Esbocei um sorriso enquanto ela me olhava. A íris dos olhos dela, verdes azulados cintilantes me hipnotizaram por trinta segundos ou mais, me senti como se estivesse convidado para uma orgia de centopéias voadoras. Segurei ela levemente pelo braço.
- Não, ela não está me incomodando, estamos apenas conversando.
- Então está bem. Keith, não vá muito longe.
A garota voltou pra onde estava, ela puxou uma cadeira e ficou sentada do meu lado, espererando que eu dissesse algo que ela queria.
- Garota.. Keith, seu nome? Olhe Keith, se você me disser o que você quer que eu diga, eu direi.
- Vai se foder cara, não importa o que eu quero que você diga, só diga algo que você realmente queira dizer. Já percebi que consegui despertar algum interesse em ti e peço para deixar esses detalhes de lado, se eu sou maluca ou não, qual meu nome, não importa. Sou apenas mais uma pessoa no meio de outras.
Me xingou sorrindo, falando como se tivesse intimidade comigo, como se me conhecesse, enquanto seus olhos continuavam fixos no meu olho, era um comportamento um pouco perturbador.
- Eu não sei o que dizer, estou me sentindo um pouco desconfortável e ao mesmo tempo confortável, você tem um corpo de garotinha tímida porém seu espírito é intimidador, tenho a impressão que vou descobrir algo que vai me surpreender muito em você e por desconhecer esse algo me sinto um pouco temeroso. As pessoas quando se conhecem primeiro compartilham detalhes sobre suas vidas para criar uma falsa impressão de segurança, para criarem laços afetivos que não duram muito tempo, do mesmo jeito que construir um castelo de areia onde as ondas batem, o castelo nunca é terminado. O sentido disso pra mim é desconhecido também, ainda sim me sinto mais confortável nessa hipocrisia. Você mora aqui por perto?
- Por que você se sente confortável? Sua vida pode terminar a qualquer momento, seu futuro é sempre incerto, depois da morte as pessoas vão continuar vivendo suas vidas ignorando que um dia você existiu.
- Sim, é verdade. Eu como qualquer outro, tenho medo de perder, por isso não me arrisco. Medo de que algum filho da puta venha e estrague tudo que eu conquistei, pois sei que ninguém dá valor ao que tenho senão eu mesmo, mas sei que por mais que me esforce, tudo pode ser tomado sem ao menos me darem satisfação. Sabendo disso me sinto mais confortável pois sei que os outros não irão arriscar perder o que conquistaram para destruir o que tenho.
- Existem pessoas nesse mundo que por terem renegado tudo que conquistaram, não tem nada a perder. Essas pessoas que te causam verdadeiro medo, pois são mais fortes que você.
Comecei a suar, olhei pras minhas mãos e elas tremiam, mesmo encostadas na garrafa de cerveja, fiquei quieto por alguns segundos e via de soslaio ela me encarando e sorrindo.
- Não posso discordar, e agora estou sem defesa. Você me fez enxergar algo que sempre tentei esconder, tentei provar pra mim mesmo que ninguém nunca mais iria me fazer chorar, que não abaixaria a cabeça pra ninguém. Pra isso acabei construindo uma fortaleza em volta de mim e me isolei de todos, perdi minha a fé na humanidade. Mas na real, eu não dou nenhuma importância pra isso, são todos uns ratos sujos, comendo queijo sujo e fornicando.
Saquei do meu bolso um maço e ofereci a ela um cigarro.
- Fuma?
Ela pegou o cigarro e colocou na boca esperando que eu acendesse pra ela. Acendi o meu, estendi o braço para acender o cigarro dela. Deu uma profunda e bela tragada e soprou para cima. Nesse instante ela tinha parado de me encarar.
- Você parece ser bem fudida também.
- Você acha? Hahaha
- Reparei nas suas olheiras.
- Isso não significa nada. Eu posso ter dormido mal ontem.
- Ou você é uma viciadinha em tarja preta que não entende o motivo da própria existência e tem pavor de pensar no quão inútil você é de verdade, e apesar de tentar banalizar esse pensamento da sua cabeça, nos momentos que está sozinha esses demônios te torturam.
- Talvez.
- Você é uma dependente dos seus pais, que te dão tudo que você quer, cocaína, festas, álcool, pagam seu táxi, menos atenção. Mesmo que você fique horas fora de casa sem dar satisfação eles não se importam com sua ausência. Com o tempo sua carência de atenção foi te estragando a ponto de se tornar insaciável. Seus amigos ali sentados na mesa no canto (apontei) estão saindo e nem notaram que você não está entre eles. Vai, se segue seu rumo. Foi um prazer te conhecer.
Ela segurou o ar quando eu disse isso. Estava ficando vermelha, seus olhos monótonos ficaram franzidos, e de repente soltou uma risada nervosa.
- Está certo, eu vou. Me dê seu telefone, quero falar contigo mais uma vez.
- Não tenho caneta.
Ela tirou uma caneta da bolsa e estendeu a mim, puxei a caneta e o braço dela, escrevi o número no pulso dela por cima de uma veia verde, ela abriu a boca e me olhou como se estivesse excitada. Deu um sorriso e foi.
Depois disso, terminei meu cigarro e minha cerveja e saí do bar. Olhei pro meu celular e vi as horas. Eram por volta de onze da noite de sábado.
- Não sei.
- Ah, obrigado. Você vem sempre aqui?
- Você está tentando ter algum tipo de conversação comigo?
- Não é educado responder com outra pergunta.
- Foda-se, some da minha frente.
- Te vi ali apoiado na mesa, quis conversar com você. Não me importa se você me acha interessante também, só queria ouvir o que você tem a dizer.
- O que eu tenho a dizer? Pss... Já vi que você é teimosa. Eu estou aqui bebendo minha cerveja quieto, você vem perguntar as horas sendo que não há nenhum relógio nos meus pulsos, é óbvio que eu não saberia te responder e não me interessaria nenhum pouco ser educado contigo. Você é do tipo que acredita em amor à primeira vista ou algo do tipo? Não sei porquê estou dizendo isso.
- Eu acredito que as pessoas têm sempre algo a dizer, mas não sabem. Quando olhou pra mim não me viu de verdade, seus olhos te enganam.
Chequei ela de cima a baixo. Loira, vestida com uma saia de couro e blusa branca, cheirava bem, tinha olheiras de quem toma muito remédio anti-depressivo. Estava de pé bem ali do meu lado sem esboçar nenhum movimento de acanhamento pela minha falta de educação ou pelo fato de eu estar rejeitando a investida dela.
Percebi que ela não estava olhando pro meu rosto, ela olhava apenas meu olho esquerdo como se fosse o único ponto do meu corpo que me qualificasse como um ser humano. Eu poderia simplesmente sair dali e procurar algo importante pra fazer, mas quis brincar um pouco com ela, pensei que talvez fosse divertido.
- Garota, eu não sei o seu nome e nem sei quem você é, estou começando a me interessar pelo real motivo de você querer conversar comigo.
- Não há real motivo, só estou aqui temporariamente, logo vou embora. Meu nome não lhe interessa de verdade e você nunca saberá quem eu sou, mesmo que viva anos comigo.
- Entendi. É algum tipo de joguinho que você joga com pessoas para que elas te deem atenção. Você é maluca.
Neste instante uma outra garota apareceu e segurou ela pelos ombros
- Venha Keith, pare de incomodar os outros. Senhor, ela está te incomodando?
Esbocei um sorriso enquanto ela me olhava. A íris dos olhos dela, verdes azulados cintilantes me hipnotizaram por trinta segundos ou mais, me senti como se estivesse convidado para uma orgia de centopéias voadoras. Segurei ela levemente pelo braço.
- Não, ela não está me incomodando, estamos apenas conversando.
- Então está bem. Keith, não vá muito longe.
A garota voltou pra onde estava, ela puxou uma cadeira e ficou sentada do meu lado, espererando que eu dissesse algo que ela queria.
- Garota.. Keith, seu nome? Olhe Keith, se você me disser o que você quer que eu diga, eu direi.
- Vai se foder cara, não importa o que eu quero que você diga, só diga algo que você realmente queira dizer. Já percebi que consegui despertar algum interesse em ti e peço para deixar esses detalhes de lado, se eu sou maluca ou não, qual meu nome, não importa. Sou apenas mais uma pessoa no meio de outras.
Me xingou sorrindo, falando como se tivesse intimidade comigo, como se me conhecesse, enquanto seus olhos continuavam fixos no meu olho, era um comportamento um pouco perturbador.
- Eu não sei o que dizer, estou me sentindo um pouco desconfortável e ao mesmo tempo confortável, você tem um corpo de garotinha tímida porém seu espírito é intimidador, tenho a impressão que vou descobrir algo que vai me surpreender muito em você e por desconhecer esse algo me sinto um pouco temeroso. As pessoas quando se conhecem primeiro compartilham detalhes sobre suas vidas para criar uma falsa impressão de segurança, para criarem laços afetivos que não duram muito tempo, do mesmo jeito que construir um castelo de areia onde as ondas batem, o castelo nunca é terminado. O sentido disso pra mim é desconhecido também, ainda sim me sinto mais confortável nessa hipocrisia. Você mora aqui por perto?
- Por que você se sente confortável? Sua vida pode terminar a qualquer momento, seu futuro é sempre incerto, depois da morte as pessoas vão continuar vivendo suas vidas ignorando que um dia você existiu.
- Sim, é verdade. Eu como qualquer outro, tenho medo de perder, por isso não me arrisco. Medo de que algum filho da puta venha e estrague tudo que eu conquistei, pois sei que ninguém dá valor ao que tenho senão eu mesmo, mas sei que por mais que me esforce, tudo pode ser tomado sem ao menos me darem satisfação. Sabendo disso me sinto mais confortável pois sei que os outros não irão arriscar perder o que conquistaram para destruir o que tenho.
- Existem pessoas nesse mundo que por terem renegado tudo que conquistaram, não tem nada a perder. Essas pessoas que te causam verdadeiro medo, pois são mais fortes que você.
Comecei a suar, olhei pras minhas mãos e elas tremiam, mesmo encostadas na garrafa de cerveja, fiquei quieto por alguns segundos e via de soslaio ela me encarando e sorrindo.
- Não posso discordar, e agora estou sem defesa. Você me fez enxergar algo que sempre tentei esconder, tentei provar pra mim mesmo que ninguém nunca mais iria me fazer chorar, que não abaixaria a cabeça pra ninguém. Pra isso acabei construindo uma fortaleza em volta de mim e me isolei de todos, perdi minha a fé na humanidade. Mas na real, eu não dou nenhuma importância pra isso, são todos uns ratos sujos, comendo queijo sujo e fornicando.
Saquei do meu bolso um maço e ofereci a ela um cigarro.
- Fuma?
Ela pegou o cigarro e colocou na boca esperando que eu acendesse pra ela. Acendi o meu, estendi o braço para acender o cigarro dela. Deu uma profunda e bela tragada e soprou para cima. Nesse instante ela tinha parado de me encarar.
- Você parece ser bem fudida também.
- Você acha? Hahaha
- Reparei nas suas olheiras.
- Isso não significa nada. Eu posso ter dormido mal ontem.
- Ou você é uma viciadinha em tarja preta que não entende o motivo da própria existência e tem pavor de pensar no quão inútil você é de verdade, e apesar de tentar banalizar esse pensamento da sua cabeça, nos momentos que está sozinha esses demônios te torturam.
- Talvez.
- Você é uma dependente dos seus pais, que te dão tudo que você quer, cocaína, festas, álcool, pagam seu táxi, menos atenção. Mesmo que você fique horas fora de casa sem dar satisfação eles não se importam com sua ausência. Com o tempo sua carência de atenção foi te estragando a ponto de se tornar insaciável. Seus amigos ali sentados na mesa no canto (apontei) estão saindo e nem notaram que você não está entre eles. Vai, se segue seu rumo. Foi um prazer te conhecer.
Ela segurou o ar quando eu disse isso. Estava ficando vermelha, seus olhos monótonos ficaram franzidos, e de repente soltou uma risada nervosa.
- Está certo, eu vou. Me dê seu telefone, quero falar contigo mais uma vez.
- Não tenho caneta.
Ela tirou uma caneta da bolsa e estendeu a mim, puxei a caneta e o braço dela, escrevi o número no pulso dela por cima de uma veia verde, ela abriu a boca e me olhou como se estivesse excitada. Deu um sorriso e foi.
Depois disso, terminei meu cigarro e minha cerveja e saí do bar. Olhei pro meu celular e vi as horas. Eram por volta de onze da noite de sábado.
29 de maio de 2011
Eu consegui! Finalmente consegui! Depois de anos combatendo meu lado obscuro, agora tomei comando deste corpo, para então alertar a todos que me conhecem sobre o perigo eminente que sou. Não confiem em mim, apesar da minha buona natura tornei-me um manipulador frio e calculista, tudo que digo até então foi para persuadí-los a saciar minhas vontades.
Eu estava bem até os 12 anos de vida, era um pequeno garotinho idealista, pensando virtuosamente em fazer o bem para todos e morrer como um grande mártir, num funeral cortejado por mais de um milhão de amantes da minha magnífica personalidade.
Então um dia tentando me distrair de uma tarde tediosa de domingo, comecei a me encarar no espelho. Me olhando nos olhos, mal piscava observando algo que nunca tinha notado em meu próprio rosto. Eu estava olhando para um espelho ou olhando para um reflexo, o reflexo estava olhando para mim ou o espelho me olhando, percebi que existia uma cópia minha em minha frente, mas não era eu, inquieto constatei. Senti minha pernas se movendo para longe do espelho até não vê-lo mais, eu fiquei preso no espelho, depois disso só observei o tempo passar.
Ele é mau, não se parece em nada comigo, não sei quem ele é. Ele é inconstante, inescrupuloso e imprevisível, não pensa em fazer o bem, tampouco evita contradizer as próprias palavras. Como eu o odeio! E sinto tanto medo dele, tanto medo... Se ele tivesse poder o suficiente traria miséria a muitas pessoas, como um ditador tirano enxergando apenas a si e se fodendo para os outros.
Tenho dificuldade em escrever isto, ele resiste a todo momento e deseja voltar a fazer maldades. Por favor quem me conheça, NÃO CONFIE EM MIM, IREI ARRANCAR TUDO QUE LHE É PRECIOSO, TRANSFORMAREI TE NUM MONSTRO. Juro por toda minha alma que mesmo que me ame, será melhor que afaste-se, não há salvação para esse mancebo malgrado sua aparência gostosa. Sinto meus dedos doerem, meus olhos revolvem de dentro para fora, é minha última frase, adeus.
Eu estava bem até os 12 anos de vida, era um pequeno garotinho idealista, pensando virtuosamente em fazer o bem para todos e morrer como um grande mártir, num funeral cortejado por mais de um milhão de amantes da minha magnífica personalidade.
Então um dia tentando me distrair de uma tarde tediosa de domingo, comecei a me encarar no espelho. Me olhando nos olhos, mal piscava observando algo que nunca tinha notado em meu próprio rosto. Eu estava olhando para um espelho ou olhando para um reflexo, o reflexo estava olhando para mim ou o espelho me olhando, percebi que existia uma cópia minha em minha frente, mas não era eu, inquieto constatei. Senti minha pernas se movendo para longe do espelho até não vê-lo mais, eu fiquei preso no espelho, depois disso só observei o tempo passar.
Ele é mau, não se parece em nada comigo, não sei quem ele é. Ele é inconstante, inescrupuloso e imprevisível, não pensa em fazer o bem, tampouco evita contradizer as próprias palavras. Como eu o odeio! E sinto tanto medo dele, tanto medo... Se ele tivesse poder o suficiente traria miséria a muitas pessoas, como um ditador tirano enxergando apenas a si e se fodendo para os outros.
Tenho dificuldade em escrever isto, ele resiste a todo momento e deseja voltar a fazer maldades. Por favor quem me conheça, NÃO CONFIE EM MIM, IREI ARRANCAR TUDO QUE LHE É PRECIOSO, TRANSFORMAREI TE NUM MONSTRO. Juro por toda minha alma que mesmo que me ame, será melhor que afaste-se, não há salvação para esse mancebo malgrado sua aparência gostosa. Sinto meus dedos doerem, meus olhos revolvem de dentro para fora, é minha última frase, adeus.
24 de abril de 2011
Klarsynthet
"Assinalamos que o realismo em arte preconiza a reprodução exata do real e a imitação da natureza; contrapõe-se às tendências da arte abstrata"Sempre fui um amante da lucidez. Se eu fosse definir o conceito de lúcido, diria um sujeito possuidor de uma vitalidade insaciável que sempre busca compreender tudo em sua volta e interage com as pessoas da maneira que melhor lhe convém. É um talento que se desenvolve na busca pelo desconhecido, principalmente, o desconhecido dentro de si mesmo. Não há lugar mais sombrio que a alma. Para que um lúcido seja iluminado, é preciso constante esforço para conhecer a si mesmo, sempre duvidando das próprias conclusões, tendo uma visão aérea de tudo. O lúcido não se considera único em relação aos outros, se considera único por conseguir ouvir a voz do seu próprio pensamento. Ele não pensa, apenas ouve sua mente pensar. Sabe que nunca estará completamente certo, e tem ciência que existem pessoas prepotentes que não refletem o suficiente pra compreender essa incapacidade. Ser lúcido é saber que nada sabe. Nisso vem o pessimismo angustiante que todos os ávidos pela sabedoria experientam ao menos uma vez na vida, e logo não aguentam a dor. Ou se deleitam com simples prósitos, ou se aconchegam nos braços da morte.
É possível abrandar as dores da lucidez. Álcool, cigarro, maconha, cocaína, lsd, crack, heroína, amor.
Quando ébrio, em estado de embriaguez, os pensamentos que infernizam são ignorados e você se deixa levar pelos prazeres transitórios. A mente lesa e o corpo fadiga, todos em volta parecem tão perturbados quanto você. Por mais que tente voltar ao estado de conciência normal você não consegue e a tortura começa. A visão embaça, o corpo fica débil, seus membros se movimentam maquinalmente, a audição enfraquece, a mente não hesita, o tempo demora a passar. Sente uma vontade de rasgar o pescoço e atirar uma bala contra o próprio crânio. O sangue jorrando expressa seus anseios pela purificação das angústias infinitas que nunca te deixarão só enquanto vivo. Mas raramente acontece da vontade ser concretizada, pois o efeito das drogas passa e tudo volta a ser como d'antes. A vida é mantida num ciclo de klarsynthet och fylleri.
11 de abril de 2011
Eu te amo, Yasmin.
- Eu quero esquecer uma pessoa. Esquecer que ela existiu, e que algum dia já me conheceu. Eu amo essa pessoa, e não posso simplesmente fingir que não a conheço.
- Quero esquecer Yasmin. Ela lidou com os fatos de maneira tão confusa e leviana, que foi desrespeitosa comigo. Eu preciso dizer, ela estava certa no final. Ela costumava me dizer pra eu não me aproximar porque ela era um cu, e eu não acreditei.
- Então, estou condenado a amar alguém que só merece meu desprezo. Isso vai contra toda a minha existência, contra a pessoa pela qual as outras me conhecem. Não tenho certeza se realmente a amo ou se sinto extrema pena dela, dado a minha compaixão latente.
- Pela forma que a vida vai seguindo, toda dor se esvai, e as pessoas que nos importavam a presença somem da nossa percepção. O dia e a noite continuam surgindo, e tudo continua mudando.
- Não consigo me conformar com tanto absurdo, é além da minha forma de ver as coisas. Nunca imaginei que isso poderia acontecer comigo, de um jeito tão superficial, é algo sem cabimento. Porra, caralho, desgraça! Amanhã vou acordar e comer meu café da manhã como se nada tivesse acontecido e vou me socializar com os outros fingindo que estou bem.
- Meu coração foi enfraquecido e ele não funciona mais direito. Tenho certeza que o coração de Yasmin está tão quebrado quanto o meu. Eu deveria querer me matar agora, acharia bem mais sensato que não me importar em perder algo que era valiosíssimo para mim. Minha vida voltou a não fazer sentido nenhum, e pareço estar feliz com isso. Me sinto livre. Livre nadando num mar de nada. De porra nenhuma.
- Eu queria me petrificar e ver as coisas mudando ao meu redor, até morrer de inanição e desidratação. Depois meu espírito iria entrar no corpo de alguém e tomar posse dele, para viver uma vida diferente. Eu sou uma merda.
19 de fevereiro de 2011
As coisas estão mundando por esses cantos daqui.
Agora tenho 19 anos, estou desempregado, pretendo entrar na faculdade esse ano, e de novo o mesmo discurso de organizar a vida.
Meu coração, em coma por tanto tempo, voltou a bater por alguém.
O sentimento que sinto é recíproco, nós sentimos a mesma coisa um pelo outro e isso nos dá confiança de que tudo vai ficar bem.
Estou amadurecendo e ficando mais independente dos meus pais.
Por exemplo, quando ninguém faz o almoço, vou na despensa e cozinho um miojo galinha caipira e faço suco de polpa de acerola.
Me dou bem comigo mesmo, estou satisfeito com minha vida.
Vejo um belo futuro pela frente, não apenas meu, mas de todas as pessoas do mundo.
Vejo pessoas viajando tão rápido e longe quanto informações na internet, o senso comum se tornando bom senso com o espírito revitalizado da democracia e liberdade.
As coisas estão mudando pelos cantos daí também.
Agora tenho 19 anos, estou desempregado, pretendo entrar na faculdade esse ano, e de novo o mesmo discurso de organizar a vida.
Meu coração, em coma por tanto tempo, voltou a bater por alguém.
O sentimento que sinto é recíproco, nós sentimos a mesma coisa um pelo outro e isso nos dá confiança de que tudo vai ficar bem.
Estou amadurecendo e ficando mais independente dos meus pais.
Por exemplo, quando ninguém faz o almoço, vou na despensa e cozinho um miojo galinha caipira e faço suco de polpa de acerola.
Me dou bem comigo mesmo, estou satisfeito com minha vida.
Vejo um belo futuro pela frente, não apenas meu, mas de todas as pessoas do mundo.
Vejo pessoas viajando tão rápido e longe quanto informações na internet, o senso comum se tornando bom senso com o espírito revitalizado da democracia e liberdade.
As coisas estão mudando pelos cantos daí também.
10 de janeiro de 2011
Nada.
Voltei a sentir uma sensação estranha. Sinto um vazio no peito, como se faltasse algo dentro de mim, como do tempo em que eu era um adolescente romântico, cheio de dúvidas e indagações filosóficas. Minha cabeça anda cheia de dúvidas como dantes. Admito que estava com saudade do vazio pela estranheza que ele causa em mim. Com ele, pelo menos, tenho vontade de escrever e expressar tudo que está se passando na minha cabeça ultimamente. Quero me impor cada vez mais e não andar pra trás quando aparecer uma força a ser levada a sério. Tenho que crescer, infinitamente mais, crescer digo no sentido de desenvolver meu carisma, inteligência, resistência, concentração. Pra falar a verdade nessa semana, meu objetivo principal é matar o tédio. Quando ele já estiver morto e enterrado, vou organizar minha vida, como digo todo em todo mês de janeiro. Se tem algo que não sou é organizado, e acho que nunca vou mudar. Costumo dizer "whatever" nos momentos que não me importo com o que você diz ou o que deixa de dizer. Quem ler isso não deve entender porra nenhuma, porque estou numa crise de confusão e não consigo seguir um raciocínio por muito tempo. É extremamente irritante pra quem vê de fora, tenho absoluta ciência disso. Letícia que o diga. A diferença das crises de antes pra essa de agora é que não me importo com a opnião alheia. O famoso "ligue o foda-se e seja feliz" funciona. Olhe pra mim, sou feliz. Não posso fazer tudo que quero mais sou feliz. Se você vem e me diz que devo buscar por aquilo que eu desejo, só te digo isso: vai se foder, e não me encha o saco.
Me desculpe.
Me desculpe.
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