12 de outubro de 2011

Chega sexta-feira. Você está animado pra sair com seus amigos, sentar com eles numa mesa e beber uma cerveja, jogar conversa fora, quem sabe conhecer alguém interessante.
As horas vão passando enquanto espera sentado que seu amigo te apresente a nova garotinha que ele estava falando tanto antes, o copo da cerveja vai suando e seu cigarro fica pedindo a todo instante para ser aparado por petelecos. As horas vão passando e você anda de beco em beco, olhando pras pessoas rindo e se divertindo, percebendo que você não está tão feliz quanto elas, e você finge passar por despercebido. A noite termina e você não fez nada que se recorde, de novo.
Depois de uma semana aquela pequena sensação de desconforto vira algo latente, fica cada vez mais difícil ignorar que há algo errado contigo. Mesmo com o humor lacônico com que lida a sua lógica fatalista, você pensa duas vezes antes de pensar numa conspiração universal que busca o seu eterno desprazer nos finais de semana, afinal, você não é um floquinho de neve especial.
Sentado no computador, buscando algo que te inspire e cheio de esperança que alguém legal te chame pra sair, e que isso realmente te divirta, nada acontece. Você definitivamente não é uma personagem de filme hollywoodiano, nenhum agente especial vai te contratar para uma missão confidencial que se bem sucedida, o prefeito te entregar a chave da cidade para você comer o que quiser no supermercado sem pagar nada. Uma voz lá dentro da sua cabeça diz claramente: desculpe amigo, mas você foi esquecido por todos, e ninguém sente sua falta.
Em alguns meses, aquele sensação de rejeição te tortura, mas não a solidão. A solidão não te incomoda. Enquanto seu estado de ocupado no msn mascarar a sua vida ociosa e vergonhosa, você está bem, se masturbando para mulheres sujas de porra e jogando algum jogo de mmorpg. "Afinal, quem iria pesquisar minha verdadeira ocupação, já que sou tão inútil?" Você pensa. A cada dia você passa a se comparar com pessoas de níveis cada vez menores. Você antes mal dava bom dia pro porteiro do seu prédio, agora olha ele nos olhos e busca um consolo para a dor que está sentindo, sentir a realidade batendo no seu casulo, toc toc.
Era verdade. Meses atrás, aquele pensamento arriscado de querer saber até quando as pessoas iriam lembrar de você sem que você fosse recíproco com nenhuma delas, foi posto em prática e o resultado, surpreendente. Sua auto estima é leviana como a de qualquer outro adolescente, e eles, já acostumados em ter de buscar constantemente se encaixar em algum grupo para não se sentir um grande perdedor, fazem como é necessário para sobreviver: Puxe saco depois pretenda que você é importante e ignore, vá para uma festa, poste fotos suas com seus "amigos", minta para si mesmo que está feliz, repita a operação.
Depois de meses de abstinência, sem sentir o êxtase do poder que você estava acostumado a sentir, você passa a rejeitar aqueles que antes te rejeitaram. "Já que eles não precisam de mim, eu não preciso deles" você pensa, sem realmente acreditar no que está pensando. Nesse momento, você está tão distante daquelas pessoas que te deixaram para trás que mesmo numa investida despretenciosa, você falha, falha miseravelmente. Algumas pessoas devem ter falado de você, e devem ter falado mal, e agora a moral que você tinha, sumiu.
Você sente sua vida sendo sugada para uma poça pegajosa e não consegue se soltar, e ninguém tenta te puxar pra fora, mesmo que você grite bem alto e chore de desespero. A partir desse momento você reflete como foi parar ali, tão rápido e sem esforço, numa posição de total submissão às pessoas que antes de certa maneira te idolatravam.
A partir daí você passa a olhar melhor para sua família, e busca a proteção deles, como se voltasse a ser criança. Seus pais, sempre condolescentes e amáveis, te põem por baixo da saia sem hesitar; eles te adoravam quando você era aquele bebezinho fofinho que só saía de casa quando eles quisessem.
Você está ficando velho, o tempo está passando, e você fica aí, sentado em frente ao computador, esperando que algo aconteça. Você tem medo de tentar e não conseguir, para depois as coisas ficarem ainda piores. Você ouve de longe as pessoas rindo da sua cara, e algumas riem até mesmo na sua frente, e não há nada que se possa fazer.
Você espera por cada sexta-feira com a mesma animação de sempre, esperando que por algum momento você esqueça de quem você é, e finja ser outra pessoa. Se as pessoas não te toleram, imagine você mesmo.

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