30 de agosto de 2009

Ele precisava de algo que o distraisse, alguma coisa que nao lembrasse dela. Um amigo ligou dizendo que iria ter uma festa a noite, e que ele estava "convidadíssimo", quase ameaçando se ele nao comparecesse. Numa circunstancia dessas, era dificil negar. Arrumou-se, e quando deu 9h e poucas, foi ate a festa. "preciso beber, faz tempo que nao bebo" pensava. Dobrou a esquina numa rua silenciosa e avistou um casarao bem iluminado. A musica ainda nao estava tocando, e a festa tinha começado faz um tempo. Ao parar em frente ao portao da frente, um odor de gente exalava pelo ambiente, cerveja se via estocada por todos os cantos, de cada cômodo da casa. "Luis é tao preguiçoso que nem se da ao trabalho de guardar a breja perto dos freezers" pensava ele e balançava a cabeça em desaprovaçao.
Entrou na festa e cumprimentou os colegas exaltados, sem demonstrar muita espectativa.
- Julio, olha quanta mulher gostosa Julio! Esse lugar vai explodir de esperma hoje meu velho! - dizia num tom agudo um amigo dele.
E foi ficando cada vez mais animado, aos poucos conseguia entrar numa sintonia indireta e tranquila com cada um e parecendo-se naturalmente amigável, como se estivesse colado na testa "gostei de você". Numa roda de amigos enquanto falavam sobre qualquer história engraçada, de relance Julio viu ele. Aquele desgraçado estava lá. Mesmo depois de ter avisado semanas atrás "Nunca mais apareça na minha frente!", ele tem a audácia de fingir nao conhecia, ou nao tava nem ai pra o que aconteceu.
Percebendo isso, deu um bufão cheio de odio, apertou os punhos. Seu coração fremia forte como sempre que via aquela asquerosa face. Julio se contia há meses, e agora ele nao conseguia mais. O seu destino estava selado. Respirou fundo e foi andando despercebidamente pra perto do maldito. Derrepente ela aparece, a causadora de todo o mal, a vagabunda que tinha o traído. No meio da multidao de gente que estava dentro da festa, o olhar dos dois nem chegaram a se encontrar. Julio sabia que mesmo se ela o visse, fingiria que nao viu, sendo tao indiferente e cretina quanto aquele desgraçado. Gabriel era o nome, aproximou-se de Julio apenas por interesse na namorada dele. Aliás, ex-namorada. Desde meses que o coraçao de Julio estava despedaçado, nao entendia muito bem como essas pessoas conseguiam ser tao frivoras. Naquele momento ele já havia posto pra cima de Gabriel, como se esse fosse algo exclusivamente para socar, feito um saco de areia. Ali nao existia remorso, sensatez, pena ou piedade; só a raiva imperava. Como a musica nao estava sendo tocada na festa ainda, todos os rostos se voltaram para onde estava vindo aqueles sons de pancadas abafadas, e exclamaçoes "o que voce esta fazendo?" "que isso?"; como se tudo aquilo fosse realmente um completo absurdo. No mundo individualista em que Julio vive, as pessoas acham que os problemas só se resolvem com indiferença e nada mais, uma frieza creditada na impunidade, cinismo acerbado. Depois que Luis apartou a briga, Julio virou-se para ela e fitou bem no fundo dos olhos, com ódio nas têmporas e fogo pelas mãos; e ela estremeceu de medo, chocada com toda aquela agressividade, sem conseguir dizer nada a respeito. Gabriel se estendia no chão todo ensanguentado, e contraía os braços para proteger seu belo rosto sensivel, que talvez depois daquela briga, nunca mais fosse belo como antes. Alguns segundos de silencio se passaram enquanto Julio engolia seu frenesi. Olhou para Gabriel em desprezo e foi embora, com a mao coberta de sangue.

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