2 de julho de 2009

Face to face


Indo pro ponto de onibus, trajeto que eu faço todos os dias pra estudar, estava pensando numa conversa que tive com uma garota... sobre ser tao insignificante quanto todos a sua volta. Veja bem, cada um segue seu caminho diario, cumprindo com seus compromissos, poucas vezes se vê uma relaçao amigavel, tudo tao estranho e ao mesmo tempo tao normal! Acontece que no meio de tanta gente nao da pra falar com todos, e ao passo que as pessoas tem medo de se relacionar com estranhos, fica um do lado do outro sem dizer uma palavra (o interessante é que quando há alguem conhecido nao consegue ficar nem mais de 5 minutos em silencio). Estava ali, parado ouvindo musica no ponto, e um sentimento de revolta foi crescendo em mim. No momento em que parou um onibus na minha frente, fixei meus olhos nos de uma mulher dentro do onibus, acredito que fiquei mais de 10 segundos olhando pra ela. 10 segundos encarando um estranho foi como se eu estivesse agredindo alguem à pauladas! Enquanto encarava aquele rosto nunca antes visto, subiu uma vontade de distrair meu olhar em outra coisa, parar com aquele "abuso" que eu supostamente estava cometendo. Digo assim, o que minha conciencia estava me dizendo era isso, "nao encare desconhecidos é perigoso", a coragem que tive foi graças ao fato de que ela sairia da minha frente em poucos segundos, já que ela estava num onibus e aquele nao era o ponto dela; e é claro por ela estar usando oculos escuros... mas ainda sim, foi uma luta.
Depois que o onibus seguiu seu caminho fiquei pensativo. Teria eu tirado a dignidade dela em 10 segundos? Pelos primeiros segundos ela devia ter pensado que eu a reconhecera, virou a cabeça em minha direçao lentamente, como se estivesse dizendo "eu vou olhar pra vc, desvie o seu olhar logo!" mas eu nao desviei. Entao acredito que ela me tomou por louco. Tenho quase certeza disso. Ah, com certeza desconhecidos nao devem encará-la como eu encarei. Pois me senti louco por um tempo, senti que podia encarar todos a minha volta, seria um usurpador de dignidades. Aquilo nao foi bom, quase perdi meu auto-controle, e o que aconteceu depois foi um sentimento tenro de amor. Amor! Fiquei um pouco sem ar por alguns instantes, uma sensaçao de bem-estar tomou conta de mim, talvez seja amor-proprio. Acho que agora que estou pensando um pouco melhor sobre isso (escrever faz as ideias mais nítidas) devo ter me sentido bem porque fiz algo contra as regras. A regra da descriçao em publico, onde cada um fica olhando pro seu canto pensando em alguma coisa distante que nao seja o lugar onde está, como se tivesse repulsa das condiçoes em que se transporta.

Pois bem, se um de voces me ver na rua, é quase certo que vou lhes encarar por muito tempo, ate que suas buchechas fiquem coradas e seu olhar encabulado. Vou encarar nao importa como, sendo conhecido meu ou não.

3 comentários:

  1. Túlio,
    encarar - ou não - alguém durante alguns segundos do seu dia jamais foi uma quebra de "discrição em publico". O que é posto em seu texto, inteligentemente, é o medo das pessoas se relacionarem - o medo da exposição.
    vivemos em uma sociedade pragmática e individualista e isso atrapalha, em muito, o convivio.
    Penso que a discussão deve partir deste ponto.

    Abraço

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu realmente gostei desse texto! É, Tulião... acontece isso comigo. Não sei se você vai ler esse comentário, e só saberá disso se o ler, por que eu não vou te dizer em outra ocasião. Eu tenho um hobbie de ficar parado em pé no lado de alguma estrada/rua/rodovia olhando nos olhos de todas as pessoas que passam de carro. É sensacional isso, muitos sentimentos estranhos de poucos segundos. =)

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